domingo, 29 de dezembro de 2013

Entrevista de Adriana Accorsi para jornal O Hoje: De frente com o Poder

Adriana Accorsi: “Eu tomaria caminhos diferentes na segurança pública”

Secretária de Defesa Social da Prefeitura de Goiânia, Adriana Accorsi defende a valorização de policiais e uma estrutura adequada de trabalho como formas de melhoria na segurança do cidadão


sábado, 28 de dezembro de 2013 | Por: Editoria

 

Adriana Accorsi teve atuação destacada na investigação de crimes contra crianças e chegoua Delegada Geral da Polícia Civil (posto máximo da instituição). Mas um ‘problema antigo’ acabou fazendo-a deixar o cargo: Adriana é petista desde os 16 anos de idade. Dentro de um governo tucano, uma mistura ‘explosiva’. Na entrevista a O Hoje de Frente com o Poder ela conta, pela primeira vez, sobre a licença para assumir a Secretaria de Defesa Social, da Prefeitura de Goiânia. A filha do ex-prefeito Darci Accorsi também responde sobre os problemas de alagamentos e inundações na cidade.

O que a Prefeitura de Goiânia pode fazer para ajudar a amenizar essa sensação enorme de insegurança na capital?

Neste ano nos trabalhamos em dois aspectos principais. Por um lado capacitando e estruturando a Guarda Civil Metropolitana, que é uma das maiores guardas do Brasil.

Qual é o contingente?

São quase 1,6 mil homens e mulheres.

Nas ruas?

Sim, nas ruas e em órgãos públicos. Nós temos mais de 80% destes servidores com curso superior. Em 2013 investimos muito na capacitação e na estruturação da GCM para que possa melhor contribuir com a sociedade goianiense. E por outro lado nós temos investido em projetos de resultado à longo prazo, principalmente na questão da prevenção, não só ao uso de drogas, que nós identificamos como um dos problemas que levam a criminalidade junto às crianças da cidade, mas também com o envolvimento com a violência, intolerância e todas as formas de agressão que podem existir entre as pessoas.

A Secretaria prepara o programa “Crack, é possível vencer”. Como?

No Brasil eu acredito que por muitos anos o tema foi ignorado pelas autoridades maiores, do país e dos estados, porque, no início só atingia as pessoas mais humildes, as pessoas que viviam na periferia, as pessoas que às vezes não eram vistas pelas autoridades, crianças e jovens muito pobres.

Hoje é qualquer classe…

Sim, não só qualquer classe, mas como em toda família tem alguém envolvido com as drogas pesadas, como o crack, que tem elementos diferenciados em relação às outras drogas. O aspecto anti-social do usuário é diferente de usuários de outras drogas que trabalham e convivem em família. No caso do usuário decrack são pessoas que não conseguem conviver em família, não conseguem trabalho cotidiano e então às vezes se envolvem com a criminalidade. A possibilidade de viciar-se é rápida. São elementos de um grande problema que é de saúde, mas que é de criminalidade também, pois hoje se você vai investigar exploração sexual de crianças está o crack como motivo. Por exemplo, uma criança de 10 anos ser prostituída por R$ 10.

A origem é o crack?

Sim, porque ao se viciar em crack essa criança deixa a família ao ser aliciada por traficantes e exploradores sexuais. Porque nós temos meninos de 14 e 15 anos como pistoleiros de traficantes assassinando e sendo assassinados hoje? Nós temos um extermínio da juventude brasileira. A maior parte dos assassinatos que acontece hoje é de jovens entre 15 e 20 e poucos anos. A maior parte é humilde. São pessoas que se envolvem nos assassinatos e entram no sistema prisional que é outro grande problema.

Parte da Guarda Civil passou a usar arma de fogo, o que sempre causa polêmica. Algumas polícias não aceitam, assim como parte da sociedade. Isso é importante, uma GCM armada?

Eu acredito que a população tem toda razão em se preocupar com pessoas armadas, principalmente com as que estão armadas de forma institucional, autorizadas pelo poder público. A GCM obteve a autorização para o armamento de 8% do contingente, ou seja, 130 guardas civis que têm o treinamento exigido pela Lei Federal, em dobro, treinamento dobrado.

O que eles fazem secretária?

Estamos criando e será lançado nos próximos dias a Ronda Ostensiva Metropolitana, que é um grupo especial da GCM.

Seria a Rotam Municipal?

Não, de forma alguma. As atribuições são diferenciadas e nós não temos a intenção de invadir as atribuições de outras forças policiais.Este grupo é armado e irá atuar nas ocorrências de maior vulto, como por exemplo no homicídio do policial civil, em frente ao Cais da Vila Nova, que aconteceu há poucos dias. Se os guardas que ali estavam estivessem ou pudessem usar armas, eu tenho certeza que aqueles criminosos não teriam assassinado um pai de família.

Aquele crime poderia ser evitado?

Poderia ser que sim. Porque hoje os criminosos sabem que o GCM não usa arma de fogo, e não se intimidam em colocar a vida de médicos, de pessoas humildes que estão sendo atendidas, como foi o caso deste pai de família, que levava um lanche para a filhainternada com dengue. Ou o médico que foi agredido e espancado recentemente. Nas praças nós temos jovens sendo assassinados. Nós estamos assumindo todos os parques. A GCM está com um projeto chamado Parque Mais Seguro e Sustentável que será lançado agora no começo de 2014, onde nós iremos ocupar durante 24 horas todos os 32 parques de Goiânia, para que as pessoas tenham estes lugares como locais seguros.

As questões dos alagamentos na cidade‘mexem’ com boa parte da população. A Defesa Civil está preparada para enfrentar esse problema?

A Defesa Civil na capital é uma ideia nova, instituída há poucos anos. E na Secretaria, era muito tímida, porque havia acabado de ser implantada. Neste ano nós dobramos o efetivo da Defesa Civil.

São quantos agora?

Agora são 12. É necessário um curso.

Mas a necessidade é bem maior…

Sim, mas eram somente 4. Nós estamos adquirindo veículos através de uma licitação que está terminando agora. A função da Defesa Civil é verificar os locais onde pode ou há não só alagamentos, mas também situações de risco para pessoas. E é o que eu acho mais importante neste trabalho. Por exemplo, um muro que pode cair em uma escola em cima das crianças. Uma residência que pode cair…

Secretária a integração das forças de segurança sofre muita ingerência política?

Sim, eu acredito que ainda sofra, mas nós que somos técnicos e trabalhamos também na política precisamos buscar sempre os critérios para que as decisões sejam mais técnicas.

A administração municipal é petista, a estadual é ‘tucana’, é aquela ‘guerra’ de bastidores. A população não acaba prejudicada?

É claro e eu acho que a população deve cada vez mais exigir dos seus representantes que tenham responsabilidade com a administração. Eu procuro ter o aspecto técnico sempre como o mais importante. A integração das forças de segurança é uma questão de responsabilidade e não de opção. A população deve exigir que ajam comresponsabilidade, assim como eu entendo que deve ser com as políticas de segurança pública. Hoje nós estamos em uma situação tão problemática, tão desafiadora na segurança pública em todo país, justamente porque os gestores não seguem as políticas além de mandato. E segurança pública não se faz apenas em um mandato. As políticas têm de ser de longo prazo.

Quando a senhora trocou o cargo de Delegada Geral da Polícia Civil (máximo da instituição) pelaSecretaria de Defesa Social muita gente se assustou. Houve pressão política?

Foi um contexto extremamente complicado. Dizer que houve só pressão política, seria simplificar uma situação que aconteceu. O ano em que estive na Diretoria Geral foi conturbado, complicado. Houve a troca do secretário de Segurança Pública. Era natural que houvesse mudanças dos chefes e dos dirigentes das polícias Civil e Militar. E naquele momento eu acredito que havia, não por parte do secretário e nem diretamente por parte do governador, mas de setores ligados à Polícia Civil, a política que entendiam que ali deveria ter uma pessoa pertencente à base do governador.

Quais setores?

Setores ligados a ele e a eles. Eu acho que não é correto nominar pessoas. São grupos políticos ligados à base e à PC que entendiam ser correto que eles indicassem essa pessoa. Mas o que realmente pesou era o momento de mudança, em que o secretário estava mudando e que seria natural mudar o chefe da PC e eu recebi um convite para participar de uma administração que se iniciava naquele momento, de uma ideia nova, não de Segurança Pública, mas de Defesa Social. E da Segurança Pública estar ligada em um conceito maior e mais amplo, que diz respeito ao direito de segurança de todas as pessoas, de uma segurança construída com a comunidade.

A senhora entende que Marconi Perillo faz um bom governo para a Segurança Pública?

Eu acredito que a Segurança Pública neste governo está extremamente difícil e complicada, mas acho que não é justo culpar um governo por uma situação que vem de muitos anos. Digamos que a falta de importar-se com a Segurança Pública é histórica e acontece em todo o país. Por causa disso estamos nessa situação e muitos dirigentes, governadores e prefeitos não se preocuparam com isso.Veja por exemplo hoje a questão dos presídios. É uma situação caótica, em que os presos não se ressocializam. As pessoas vão para os presídios e retornam para a convivência social. Isso me preocupa principalmente em relação aos criminosos que têm possibilidade maior de reincidência, como os pedófilos e estupradores. Se a pessoa não se ressocializa, retorna para a comunidade muito pior, brutalizada, embrutecida e traz muito mais riscos à sociedade. A Segurança Pública hoje em Goiás está em uma situação extremamente difícil. Eu tomaria caminhos diferentes em vários aspectos, principalmente na valorização do ser humano que trabalha com isso.

E a estrutura de trabalho?

Eu acho o local de trabalho, e eu falei isso com o governador, extremamente importante para sua vida. É um trabalho complicado, como este de você receber uma mãe que teve o filho assassinado, que teve a filha violentada sexualmente, em um local indigno. É indigno para o trabalhador e para aquela pessoa que procura a polícia, em seu momento de maior desespero e que tem de ser bem recebida.

Em 2014 a senhora deve enfrentar as urnas pela primeira vez. Tem o ‘dedo’ do pai, o ex-prefeito Darci Accorsi?

Quem me conhece sabe da minha militância no movimento estudantil, na construção do PT em Goiânia e em Goiás. Fui presidente da Juventude do PT, participei de muitas manifestações, mas decidi seguir o sonho deser policial. Construí uma carreira, mas nunca deixei de ser do PT, partido que sou filiada desde os 16 anos. Há muitos anos meu pai entende sim que eu deveria fazer parte da política partidária, retornar à militância e ser candidata. Nós estamos pensando e considerando sim essa possibilidade e a ideia é começar como candidata à deputada estadual.

Considerações finais.

Temos de repensar. Não só soluções simplistas, mas pensar na nossa contribuição como pessoa, por exemplo, vizinhos que estão se matando por causa de lixo na rua. Pessoas brigando por causa de uma bebida na boate, matando um jovem ao outro. Motivos tão fúteis para a violência. Nós temos de repensar a forma em que estamos criando nossos filhos para este mundo tão violento. Em Goiás nós batemos recordes de crime passional. As mulheres estão sendo assassinadas por seus ex-companheiros, são mais de duzentos por ano, é um número imenso. Vamos esperar de 2014, um ano de paz para Goiânia e que nós comecemos a viver em paz entre nós, em casa, nas escolas, nas famílias, nas ruas e em todos os lugares.

(apoio: Felipe Coz e Augusto Diniz)

O HOJE De Frente Com O Poder - Adriana Accorsi